quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

COVID e o Brasil no século biotecnológico

 


            Há 20 anos, a American Chemical Society lançou um compendio em retrospectiva ao "século farmacêutico" (séc XX)

    E em um dos tópicos evocada o “próximo século farmacêutico    

    Em que se previa a importância da biotecnologia farmacêutica, em proteínas e terapia gênica:

“Will protein drugs be a prominent part of the pharmaceutical library?” “

The answer over the next 10–20 years is ‘Absolutely!’ I’m more confident about that today than I was 15 years ago by a long shot.” 

“Gene therapy is simply a different way of delivering a protein"

-   “There’s every reason to believe that gene therapy will work. It’s just a question of when it will work. I’d be surprised if over the next 10 years we don’t see some protein therapeutics that are delivered via gene therapy.” 

-  - Joffre Baker, vice-presidente de descobertas científicas da Genentech (CA, USA).


 

E, de fato, atualmente vemos por exemplo a importância da biotecnologia farmacêutica no desenvolvimento de produtos voltadosa terapêutica em SARS-Cov2





Neste cenário o Brasil se coloca de certo modo em vantagem comparado a muitos outros paises, visto que estará fazendo transferëncia de tecnologia para dois produtos (i.e., "temos capacitação científica e tecnológica"), assim como diz que irá adquirir toda vacina desde que aprovada em testes clínicos (i.e., "temos recursos").

Mas podemos fazer melhor .

Além da vasta habilidade científica e tecnológica e de suporte financeiro para adquirir produtos, precisamos investir na produção original nacional, e para isso é preciso retomar um efetivo forte suporte financeiro, associado a adequada estrutura administrativa em proteção intelectual.

Por um século de desenvolvimento científico brasileiro.

Ciência e tecnologia que falem PT-BR.




FONTE:

http://www3.uah.es/farmamol/The%20Pharmaceutical%20Century/index.html

http://www3.uah.es/farmamol/The%20Pharmaceutical%20Century/Ch10.html

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/fique-por-dentro-do-mapa-das-vacinas-em-teste-no-brasil

https://educacao.uol.com.br/videos/?id=governo-diz-que-comprara-todas-as-vacinas-aprovadas-0402CC993462E0C16326


domingo, 3 de maio de 2020

101 noites




Em um conto futurista, Milton Hatoum referia a uma situação em que veríamos 2020 como um ano atípico, dominado por uma pandemia.

Lockdown.

Teriamos sido revisitados sob diversos aspectos, formando novas relações familiares, de trabalho, de sociedade, de humanismo.

Hatoum evocava a noite em que a criança, de 12 anos em 2020, narradora da história, era agraciada pela avó com histórias de Sherazade e suas 1001 noites

E, enquanto refletia sobre o texto, me pus a lembrar de uma amiga que relatou sobre seu avô e as histórias que diariamente contava a ela e demais familiares. Ele, que estava para fazer 101 anos, se encontra hoje nesse isolamento social por conta da pandemia, e sem poder seguir dividindo tantas lembranças de sua vida.




Assim como ele, quantos de nós não teríamos diversos pequenos relatos guardados em si, compartilhados usualmente em eventuais rodas de conversa do cotidiano, mas que no presente, este passado do futurismo de Hatoum, hibernam em nossa memória soterrados sob única temática - da pandemia.
 
Como seria se nós contássemos, em escritos, áudios ou vídeos diários, de 1 a 2 min por exemplo, pequenas histórias e/ou passagens de nossas vidas, reunidos depois em um único arquivo ?

Relatasse nossas experiências de infância, adolescência, vida adulta

Histórias pequenas, passagens sem vínculos entre elas, não um livro mas sim contos, episódios, sem enredo, apenas breves passagens, lembranças esporádicas, boas ou ruins, sem precisão de calendário, apenas narrativas inspiradas sobre registros de nossas memórias.

E viriam as 101 histórias, e talvez tantas outras mais.

Ou talvez uma única, aquela de nossa vida, contadas ao longo de muitas noites.


Talvez não viesse a ser aquela uma, linda história contada por Sherazade ao longo de 1001 noites ao sultão Sharyar.
 
Mas seria a nossa história. 
Nossa própria, bela vida. 
Nossa própria “live”, em capítulos.

Mas fica a reflexão, se poderíamos durante essa quarentena – produtiva - obter um belo registro para nós mesmos e para nossos entes queridos.




---------
* Milton Hatoum – “Mensagem aos amigos da Lua” -  https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,mensagem-aos-amigos-da-lua,70003288969

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Antônio




Eu curto jacarandá.


Meus primeiros instrumentos luthier são em jacarandá brasileiro de algum mobiliário centenário que seu Antônio guardava consigo para transformar, fazer daquele silencioso móvel instrumentos vibrantes em quase todos os sentidos humanos.


E que por curiosa coincidência eu vim a sugerir a união do jacarandá brasileiro ao pinho canadense


Este foi o trio cavaco bandolim e violão de 7.


Mas havia algo especial das mãos daquele Luthier, autodidata na luteria com caixotes de bacalhau em sua adolescência, mas que tinha nos seus processos não revelados - e que com ele se foram para todo sempre - um talento intangível.


São mais que mãos. É mais que um toque. É a perfeição e identidade humanas.


Era mais que serrar e colar.


Era afinar a madeira a cada micrometro até a espessura correta.


Não havia osciloscópio para inferir da espessura das madeiras aquelas que renderiam timbres almejados, fosse por mim, por um padrão estético estabelecido ou outro.


Era simplesmente o poder de criação, as mãos calejadas e artísticas, que comunicavam, uniam todo saber de 5 décadas  de luteria, suas ferramentas e aquelas matérias vegetais rígidas em novos instrumentos de comunicação.


Minha lembrança de uma genialidade que veio do interior a capital fluminense em busca de oportunidade e, que encontrei, aposentado, naquele subúrbio do RJ.


Não era nenhum país ou cidade paradisíaca, ou destino turístico.


Meus sábados eram dedicados a ir visitar e ficar horas conversando naquele Realengo. Escutando a voz da experiência e toda absurda expressividade da vida, em unir madeiras dos extremos das Américas e com sua arte – sem a exatidão da ciência - retransformar a matéria. 



Mais que meros novos fatores de forma, ele formava aquela pequena orquestra, de cavaco bandolim e violão.


Dali saiam meus Tavares. Talento. Transformador. Tons. Timbres. Transcontinental.

Jacarandá brasileiro e pinho canadense. União perfeita, num momento especial de sua vida madura, aveludou os timbres e com seu saber extirpou frequências estridentes. 


Cada toque com minhas unhas ou palheta que dou nas cordas tem mais intenção que extrair perfeição técnica e virtuosismo. Não de mim, não tenho todo esse talento.


Cada percepção dos instrumentos - suas perfeições estéticas, seus toques às minhas mãos, seus aromas, seus timbres - são um abraço de lembrança do seu Antônio, do seu Realengo, das suas histórias, do cheiro de seu ateliê, da lembrança da mesa sendo serrada, do cheiro da cola, do verniz, das cordas velhas que amarravam as madeiras, de suas conversas com café. 

Da beleza do conjunto.



Cada som que tiro é uma evocação à música e a todo esse meu privilégio. De viver. De conhecer. Do acaso do encontro. Do tempo perfeito do acontecimento das coisas.



Não haverá da física instrumentação estado-da-arte que consiga um dia traduzir cada um desses sentidos.


Somente a minha lembrança o fará.