Aquela a que chamamos de Rosa
Por outro nome cheiraria
igualmente doce”
(Shakespeare)
As coisas são muito mais que um nome, e sim o que encerram em si.
Diabetes não é diferente.
Para conhecer, é necessário mais que memorizar seu nome.
E sobretudo, entender que diabetes
está bem além da glicemia (glicose sanguínea) elevada.
Diabetes é, dentre outras
coisas, a incapacidade do organismo adequadamente
produzir e/ou secretar e/ou responder ao hormônio
insulina.
E quando isso acontece, ocorre elevação
indesejada da glicemia, denominado de hiperglicemia.
Insulina é produzida pelas chamadas células beta do pâncreas.
No diabetes mellitus tipo 1 (DM1)
ocorre perda precoce de célula beta
e perda de insulina.
No diabetes mellitus tipo 2 (DM2),
ocorre resistência à ação de insulina, e dai o pâncreas do indivíduo
DM2 precisa produzir enormes quantidades de insulina, até que entra em
exaustão, ocorre perda - tardia - de
célula beta e, por fim, hiperglicemia.
Ou seja, DM2:
- tem como característica a resistência à ação da insulina – “resistência insulínica”
- a resistência insulínica
acompanha o DM2 em toda sua trajetória, mesmo
antes do diagnóstico por hiperglicemia (podendo ocorrer mesmo com glicemia
“normal”)
- é caracterizada por excesso de
insulina nos estágios iniciais (10, 15, 20 anos antes da hiperglicemia que leva a diagnóstico[1]),
evoluindo para deficiência de insulina
em estágios muito avançados (10, 15, 20 anos após diagnóstico por hiperglicemia)
Isso nos leva a conclusões importantes:
1º) glicemia não pareceria portanto poderoso em definir, ou mesmo predizer
o risco futuro de DM2, porque tem pessoas em estado de glicemia “normal”
(chamado "normoglicenico") mas já com resistência insulínica.
2º) um indicador de resistência insulínica – ou, ainda, diabetes subclínica[2]
- nesses indivíduos normoglicemicos é a insulina
elevada, em virtude do pâncreas tentar compensar a resistência de modo a
tornar o indivíduo normoglicemico.
A limitação do uso de glicemia
para prever risco futuro de diabetes tem se demonstrado por estudos
independentes, incluindo dois publicados recentemente, um nos EUA de 2017 (ARIC[3])
e outro de 2019 no Brasil (ELSA-Brasil[4]).
Por outro lado, outro estudo em 2009 (Whitehall-UK[5])
observou que pacientes que ficaram diabéticos eram resistentes a insulina
10 a 15 anos (talvez até mais) antes do diagnóstico de DM2 pelo critério de
hiperglicemia.
De fato, a Associação Americana
de Diabetes (ADA) já havia afirmado em 1997 que insulina é o melhor diagnóstico de resistência insulínica & melhor preditor de risco futuro de DM2[6].
Ou seja, numa perspectiva diagnóstica, a melhor forma de saber que se
está no caminho de DM2 é saber seu nível de insulina e, assim, seu grau de resistência
insulínica.
Parafraseando o dramaturgo,
“diabetes é diabetes ainda que com outro nome”
Afinal, podemos reconhecer uma rosa ao longe, mesmo que ainda não tenhamos sentido seu doce aroma.
[1] Tabák et al, 2009. Trajectories of
glycaemia, insulin sensitivity, and insulin secretion before diagnosis of type
2 diabetes: an analysis from the Whitehall II study. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(09)60619-X
[2]
Lima LMTR, 2017. Subclinical Diabetes. An. Acad. Bras. Ciênc. vol.89.
[3] Warren et al, 2017. Comparative
prognostic performance of definitions of prediabetes: a prospective cohort
analysis of the Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) study. https://doi.org/10.1016/S2213-8587(16)30321-7
[4] Schmidt et al, 2019. Intermediate
hyperglycaemia to predict progression to type 2 diabetes (ELSA-Brasil): an occupational
cohort study in Brazil. https://doi.org/10.1016/S2213-8587(19)30058-0
[5] Tabák et al, 2009. Trajectories of
glycaemia, insulin sensitivity, and insulin secretion before diagnosis of type
2 diabetes: an analysis from the Whitehall II study. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(09)60619-X
[6] Consensus Development Conference on
Insulin Resistance: 5–6 November 1997
Diabetes
Care 1998 Feb; 21(2): 310-314. https://doi.org/10.2337/diacare.21.2.310
--- Atenção: este texto é apenas informativo científico, e não constitui orientação de qualquer natureza, tampouco constitui relação profissional-paciente/cliente. O uso de qualquer informação aqui contida é de responsabilidade do usuário e não do autor deste texto. Recomenda-se que qualquer pessoa interessada em tomar alguma atitude em relação a cuidados da saúde procure orientação profissional qualificada nos termos da legislação vigente.
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